ADUBANDO O JARDIM: A SEXUALIDADE - Parte XIV

ADUBANDO O JARDIM: A SEXUALIDADE - Parte 14
Restauração: uma breve reflexão teológica

Restaurar é recuperar. É o ato de restabelecer ou restituir a uma condição anterior. A restauração é um ato tão importante que no caso de obras de arte artistas estudam materiais e tons de tintas da época para restituir a obra a sua imagem original. Há caso de uso da física, química e arqueologia para estudo de restauração não só de objetos de arte como também de construções. Não há como restaurar sem ações importantes e essenciais.
Restauração não é apenas um elemento relacional, mas também é um forte expoente teológico.
A ideia de restauração recua até os grandes profetas do Velho Testamento. Estes previram a disciplina e o exílio do povo de Deus mas também falaram da restauração que Deus operaria em favor de seu povo (Jr 27.22; Dn 9.25, Malaquias entre outros). Essa mensagem de restauração foi associada ao Messias (Is 61). Dentro de certa perspectiva a restauração é uma coisa futura. No Novo Testamento Pedro vê isto desde cedo em suas cartas.
Temos de atentar também para o fato de a restauração ter grande referência com o passado. O Novo Dicionário da Bíblia, de J.D. Douglas, declara o seguinte: “É legítimo inferir que a restauração salienta algum estado tal como o desfrutado pelo homem antes da queda, ainda que não exista qualquer mensagem bíblica que o declare abertamente”.
Em resumo a restauração objetiva nos levar a recuperação da imagem e semelhança de Deus como operada no Éden. O que no presente só se pode vislumbrar de modo parcial quando vivemos uma vida de santidade e serviço a Deus (a nova criatura para quem está em Cristo 2Co 5.17), no futuro será uma recuperação plena a transformação da natureza humana em natureza incorruptível.
“Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados... E quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita (Is 25.8): “Tragada foi a morte pela vitória” (1Co 15. 51 a 54). Assim restauração tem aspectos do presente e do futuro vinculados a obra de Deus e nossa condição no passado do Éden.
Não há dúvida que a obra reconciliadora de Cristo foi feita para que pudéssemos ter nosso relacionamento com Deus restaurado. Que a condição original do Éden fosse restituída. Era preciso recuperar a imagem e semelhança de Deus atingida pelo pecado. Precisarmos entender, como dissemos a pouco, que essa reconciliação restauradora de Cristo tem aspectos tanto no futuro como no presente.
No futuro que nos aponta a restauração profética de Malaquias, entre outros profetas - passando pela redenção do homem e da própria natureza, conforme Romanos 5 e 8. 18 a 25. E no presente que nos conduz a restauração de nosso relacionamento com Deus já. De nossa vida santificada de uma nova criatura diante de Deus e dos homens agora.
Quanto ao aspecto futuro temos a pergunta dos discípulos sobre o a restauração de Israel em Atos 1.6: “Então os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino de Israel?”. Ao que Cristo respondeu: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade”. E falou Cristo, creio eu, dos aspectos da restauração presente quando continuou sua resposta: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, com em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.
Creio que a Palavra de Deus quando nos fala de restauração futura se concentra de modo preponderante em nossa condição presente. Ambas são reflexos do amor de Deus, mas a restauração operada pela reconciliação de nosso relacionamento por meio da morte de Cristo reflete muito mais a graça de Deus pelo testemunho em nossos relacionamentos presentes do que nossa condição futura. E nisto o Evangelho de João é muito rico. Quando Jesus lava os pés dos discípulos em João treze suas palavras são: “nisto sabereis que vós sois meus discípulos quando vós vos amardes uns aos outros”. O que podemos interpretar como: é através dos relacionamentos em graça e serviço de vocês que reconhecerão vossa restauração. Que saberão que vocês são meus filhos.
Daí João dizer em sua carta: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados seus filhos” 1 Jo 3.1. E por isso que a Carta a Tito declara: “Ele vos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo... e quero que no tocante a essas cousas, faças afirmação confiadamente, para que os que tem crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens... e que aprendam também a distinguir-se nas boas obras, a favor dos necessitados” (Tt 3. 5, 8 e 14).
No encontro de Jesus com Pedro, no Evangelho de João, podemos ver uma belíssima ilustração da força da restauração de Deus em nossas vidas e uma síntese dos aspectos presentes da obra de restauração de Cristo para nossas vidas, relacionamentos e para sentido de nosso chamado.
A busca de Jesus a Pedro e a pergunta de Cristo: Pedro tu me amas? Nos leva a refletir Porque Jesus foi até Pedro? O que Cristo desejava fazer a Pedro e o que isso representa pra nós?
“Tu me amas?” É a grande pergunta reconciliadora e restauradora de Cristo.
Para buscarmos responder essas perguntas precisamos ressaltar alguns pontos. Primeiro, o aspecto passado de nossa reflexão ressalva que antes da necessidade de restauração o que havia era obediência e fé na palavra de Deus num ambiente de perfeição e liberdade (livre arbítrio). Depois da queda desobediência e afastamento de Deus, e, portanto, necessidade de reconciliação do relacionamento com Deus e restauração da condição e/ou natureza do homem.
Nisso o encontro de Jesus tem grande semelhança com o quadro do momento da queda: Deus vai em busca de Adão e lhe oferece a graça e cuidado (troca de vestimenta de folha de figueira – inútil, em vestimenta de pele de animal útil para aquecer e livrar das intempéries). Um Deus que busca o homem para lhe oferecer perdão e condição de arrependimento. Daí a questão, assim com Adão e nós mesmos, o que Cristo desejava fazer a Pedro (a nós)?
Cristo buscou desejava restaurar e fortalecer seu relacionamento com Pedro e busca fazer isso conosco.
O Deus de toda graça, aqui na figura de Cristo, vai ao encontro do homem porque não aceita o pecado mas compreende nossas fraquezas. Cristo vai a Pedro porque ama a Pedro, contudo não deseja que ele permaneça inerte, longe de Cristo.
O Encontro de Pedro com Cristo e de Deus com Adão no Éden e com todos segundo a mensagem de Sua Palavra, representa um Deus que nos ama apesar do pecado que não aceita que permaneçamos como estamos. E que vai ao encontro de nós porque sabe que só Ele pode operar essa mudança. Que só por meio de sua reconciliação e relacionamento conosco que podermos provar sua graça restauradora.
A grande pergunta que está por trás de “tu me amas?” É você já tem um relacionamento comigo? Você gostaria de trocar sua vestimenta de folhas de figueira pelas vestes do cordeiro? Você gostaria de ter um relacionamento de filho comigo?
Enfim, o que Cristo desejava fazer a Pedro e deseja fazer a nós é oferecer seu amor.
E Porque Jesus foi até Pedro?
Alguns quadros antes do encontro de Cristo com Pedro (Capítulo 13 de João), o apóstolo Pedro declara que daria a própria vida por Jesus (v.37), contudo poucos passos adiante (Capítulo 18 de João), Pedro nega a Jesus três vezes.
Essa é a grande pista pra nós sobre a busca de Jesus a Pedro, bem como porque Deus foi ao encontro de Adão (e vem a nosso encontro). Algo essencial para pensarmos em nossos relacionamentos.
Para a restauração de nossa vida pessoal – auto-estima, confiança, ânimo; e por isso nos concede a oportunidade de arrependimento e de modo pleno.
Diante da queda de Pedro com suas três negações, Jesus oferece a oportunidade de três declarações de amor. Assim como caímos em nossas forças ganhamos nova força – restauração, pela declaração de nosso arrependimento e amor a Cristo, e de modo pleno, pois se a queda se deu de modo trino de modo trino somos restaurados. A oportunidade de Deus é completa e perfeita pra nós. Pois como falar em reconciliação e restauração sem oportunidade de arrependimento.
Por que Jesus foi até Pedro? Porque Deus quer nos oferecer uma restauração plena, que não só abrange o espírito mas também as emoções e nossa vida.
Será que não há negações a Deus em nossas vidas? Será que não estamos precisando de reconciliação? Não só com Deus, mas também com pessoas que amamos?
Em nossa reconciliação com Deus, Cristo, o ofendido, vem ao encontro e oferece oportunidade de restauração. Na reconciliação de nossos relacionamentos (talvez conjugal; filial ou com amigos etc) nos resta refletir a imagem de Cristo. Isto é, ir ao encontro e buscar a restauração
O que isso representa pra nós?
Em síntese, que Cristo mostra seu amor e sua confiança em nós e nos dá nova chance de continuarmos a servi-lo pelo cuidando para cuidarmos das pessoas.
Não é sem motivo que o Apóstolo Paulo declara em na carta aos Gálatas: “sede servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei (Palavra reconciliadora de Deus) se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5.14 – em referência a Lv 19.18).
Representa, portanto a grande oportunidade de vivermos nossa restauração. De seguirmos como discípulos no propósito de Deus em nossa criação: sermos sua imagem e semelhança, isto é, criaturas que refletem os atributos da graça de Deus.
Qual, portanto, a importância dessa restauração? O que ela significa pra nós? Qual seu efeito em nossa vida e relacionamentos?
A restauração de nosso relacionamento com Deus pela reconciliação da obra de Cristo, deve nos conduzir ao cuidado com as pessoas e a obediência a Deus, num espírito de amor ágape – incondicional e sacrificial. Amor que se reflete não só em nossa santidade como resultado da obediência a Deus pela compreensão de seu amor, mas também por nossas boas obras de amor ao próximo. Este é o propósito de Deus em nos Restaurar.
Deus quer que estejamos conscientes de seu grande amor por nós, de nossa condição e dependência nele e quer que isso nos impulsione a cuidar das pessoas, a mostrar a força dessa obra restauradora, pois só assim seremos um instrumento de Deus para restauração de outras vidas e para meio de Sua glória.
Eis a importância, significado e resultado da obra restauradora de Cristo: sermos servos santificados que amam a Deus e o servem cuidando das pessoas. Isso é o que devemos ter em mente ao ressoar em nossa mente: o “Tu me amas?” de Deus.
E a esta pergunta nossa resposta deve sempre ser sim Senhor tu sabes que te amo. Nos preparando, pois Deus sempre nos dirá – apascenta o meu rebanho, isto é, então me sirva cuidando e amando as pessoas.
Ao tratarmos sobre jardim como metáfora de nosso relacionamento conjugal, pensar sobre esses aspectos da restauração nos faz refletir sobre o fundamento e causas que podem e devem nos conduzir a restauração de relacionamento. E que, em Cristo, sempre há possibilidade de recomeçar relacionamentos e consertar vidas.